Bem vindo ao Dalah Djembe!

Este espaço destina-se a todos aqueles que apreciam a sonoridade da percussão africana e dos ritmos da cultura mandinga.
Surge pela necessidade de criar um local onde pudesse divulgar os meus conhecimentos e os meus projectos, mas também pela necessidade de fornecer um espaço onde todos possam partilhar conhecimentos e experiências, partilharem livros, tabs, compositores, músicas, cd's, expôr problemas e procurar soluções, ou até mesmo vender ou trocar instrumentos.
Outro dos motivos que me levou a criar este espaço é o facto de haver relativamente poucas pessoas que saibam efectivamente tocar djambé, pois há uma enorme diferença entre tocar e fazer barulho, e por isso ser difícil para muitos de nós, dependendo também do local onde vivemos, conhecer pessoas que partilhem este gosto, e com quem possamos tocar e desenvolver as nossas capacidades. Assim, aqui também poderão combinar "jam sessions" ou outros eventos e combinar locais de reunião regular, consoante as áreas de residência de cada um.
Tudo o que apresentar aqui é da minha inteira responsabilidade, tratando-se das minhas reflexões e opiniões, baseadas nos meus conhecimentos e na minha experiência, não me assumindo de forma alguma um expert ou um mestre na matéria, e por esse facto espero que todos vós partilhem comigo os vossos conhecimentos, experiências, reflexões, opiniões, dúvidas ou mesmo correcções aos artigos que vos apresento.
Espero, acima de tudo, que este blogue traga algo de novo e que de alguma forma vos seja útil.

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Procuro pessoal para formar um grupo de djambés e dundumbas para tocar ritmos mandinga.

A ideia é proporcionar a oportunidade para tocar, para nos divertirmos a fazer uma coisa que gostamos, para aprender os ritmos mandinga e, quem sabe, o grupo poder atingir um nível qualitativo suficiente para participar em concertos e espectáculos.

Os interessados apenas deverão ter djambé próprio, de tamanho "grande".

Para mais informações enviar e-mail para: dalahdjembe.info@gmail.com

Não sejam tímidos! Fico à vossa espera!

quarta-feira, 25 de março de 2009

O meu pequeno djambé

Ultimamente, por motivos académicos e profissionais, não me tem sido possivel vir aqui escrever. Contudo, consegui arranjar um tempo para vir aqui partilhar a história de como o djambé surgiu na minha vida.
Uma vez que nunca tive uma bateria, pelo espaço que necessitam para estarem montadas e pelo barulho que emitem para os vizinhos, senti a necessidade de procurar um instrumento que podesse ter em casa e que fosse fácil de mobilizar, que pudesse ser transportado para qualquer local, nomeadamente, onde se realizassem os ensaios acústicos da banda em que era baterista.

Certo dia almoçava com vários amigos num restaurante da Av. Luisa Todi em Setúbal, e eis que surge na esplanada um vendedor ambulante de artesanato africano que trazia na mão um djambé pequeno, que logo me pareceu ser o instrumento ideal para levar para os ditos ensaios.
Uma das pessoas mais velhas do grupo, um alentejano atarracado e gozão, um homem vivivo, tomou a iniciativa de regatear o preço do djambé com o vendedor (tal deveria ser a forma como eu o admirava entre as minhas mãos) e conseguiu baixá-lo tanto que me vi na obrigação de o comprar, embora não estivesse sequer muito voltado para ter essa despesa. Viria a revelar-se o instrumento ideal para os ensaios, contudo era pequeno e não dava para muito...
A pele original desse djambé viria a ter um final trágico, mas numa circunstância memorável! lol!
Decidi levá-lo comigo para ir ver o inesquécivel jogo Portugal vs Inglaterra a contar para o Euro 2000 (a fantástica reviravolta dos 3-2!), na praça Sony (Parque das Nações), e levar uma baqueta de bateria para que soasse um pouco mais alto. Tudo correu até ao final do jogo, de onde saí consideravelmente tocado pela quantidade de cerveja que bebi, e para celebrar em beleza era a noite dos santos populares em Lisboa, para onde segui directamente!
À medida que a minha cabeça se enchia de cerveja, a força com que batia com a baqueta na pele do djambé tornava-se um tanto ou quanto excessiva, talvez mesmo desumana, e numa dessas pancadas literalmente enfio a baqueta pelo djambé dentro!!! lol! ...durante uns tempos esse djambé ficou a ocupar espaço num canto do meu quarto, para me lembrar da parvoíçe que me tinha lembrado de fazer... É certo que o djambé já não satisfazia as minhas necessidades para os ensaios, mas daí a inutilizá-lo... (felizmente, mais tarde seria arranjado, e hoje está de boa saúde lol!)
Decidi então aguardar por uma Feira Internacional de Artesanato (na FIL) onde viria a comprar um djambé grande, o mesmo que ainda hoje toco.
Gostando de percussão como gosto, pensei que não seria dificil conseguir arrancar uns ritmos porreiros do djambé, e que provavelmente até o faria de forma bastante razoável. ...mais tarde iria perceber como estava errado! lol!
Mas essa é outra história! ...que terei todo o prazer em contar no próximo post.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Qual o primeiro ritmo a aprender?

Antes de mais, espero que tenham experimentado as dicas que vos deixei no ultimo post!
Começo por acrescentar um pormenor importante que me esqueci de referir em relação à posição das mãos. Os dedos polegares não deverão tocar no rebordo ou na pele enquanto tocamos. Atingir repetidamente o rebordo com a articulação do dedo polegar é doloroso, além de que faz com que as notas soem imperfeitas. Assim, a posição na qual as mãos se deverão encontrar deve permitir que os dedos polegares fiquem sempre de fora da superfície da pele e não embatam no rebordo. Bastará para tal colocar as mãos de forma a que os dedos indicadores e os dedos polegares formem um triângulo (unir indicador com indicador e polegar com polegar), ou seja, recuando um pouco as mãos e afastando os cotovelos do tronco mantendo o alinhamento da mão com o ante-braço, afastando os polegares para que fiquem quase perpendiculares à palma da mão. Ao atingirem a pele com as mãos nesta posição notarão que os dedos polegares passarão a estar paralelos ao rebordo, não atingindo o mesmo, e permitindo que consigam tocar a mesma nota repetidamente, sem que a mesma soe de diferentes formas.
O primeiro ritmo que eu vos sugiro que aprendam, é o Moribayassa. Poderão encontrar este ritmo num dos links que se encontram neste blogue, e é relativamente simples de executar.
O que este ritmo tem de tão especial, é o facto de conseguir acompanhar qualquer ritmo binário ou quaternário (uma vez que é sempre possível combinar ritmos com tempos pares com outros ritmos com tempos pares, tal como sucede com os ritmos com tempos ímpares), de conseguir acompanhar outros estilos de música (ex.: house; rock), e de por si só permitir treinar o intercalar da posição das mãos para fazer soar as duas principais notas que constituem a grande maioria dos solos (thumb e midle thumb). Repararão ainda que é este ritmo que acompanha um determinado estilo de música brasileira (ex.: percussão da banda que acompanha a Ivete Sangalo), sendo nesta vertente tocado a uma alta rotação.
Embora pareça simples e soe bem assim que o tocamos um pouco, deverá ser tocado num determinado estilo, que o tornará ainda mais musical.
Experimentem e deixem aqui a vossa opinião!

sexta-feira, 6 de março de 2009

Começar a tocar

Como referi no ultimo artigo, no inicio não arrancamos mais que duas notas do djambé, pois por mais que até consigamos arrancar mais uma ou outra, o difícil é conseguir repeti-las.
Por isso é crucial, caso se esteja mesmo interessado em aprender a tocar, procurar a informação correcta, seja uma pessoa que já sabe tocar, ou sejam tabs de ritmos, que na maioria até indicam qual a mão que deverá dar a nota (ex.: dtª - esqª - dtª - dtª - esqª - dtª).
Mas muitas vezes apenas não conhecemos ninguém que toque regularmente, ou mesmo que toque, com quem possamos praticar e evoluir, e muitas vezes quando aparece nem sequer a conhecemos... Gera-se então outro problema: devemos ou não confiar?... Eu aconselho a que confiem, pois até hoje não conheci nenhum gang dos djambés em que se tivessem aproveitado de mim para ganharem o dia. Normalmente, um grupo que esteja a tocar está em paz, e na maior parte das vezes são receptivos a deixarem que alguém se junte a eles. Além disso, tocar em grupo pode trazer muitas vantagens, das quais destaco a questão de não se estar sozinho, o que é suficientemente dissuasor para alguém que não tenha boas intenções (pois eles "andam aí", e um djambé vale dinheiro...), e o facto da maior parte dos ritmos terem mais do que uma voz, pelo que, quanto maior o grupo, melhor se poderá tocar e compreender os diferentes ritmos.
Falo em relação ao perigo de se tocar sozinho pelo facto de normalmente nos termos que isolar um pouco para não sermos incomodados e para não incomodarmos ninguém, ou seja, sabemos que é um instrumento barulhento, além do facto de muitas vezes se aproximar alguém a perguntar se pode tocar um bocadinho... ...e como podemos nós praticar, se outra pessoa estiver a tocar em vez de nós?...
Tal como referi no ultimo artigo, os ritmos baseiam-se em 6 notas, as quais são: thumb; midle thumb e bass, podendo estas 3 notas serem open ou closed (o que prefaz 6 notas). As tabs indicam justamente estas notas, o tempo (binário, ternário, quaternário...) e qual a mão que dá a nota. Contêm também a voz de chamada (marca a entrada das restantes vozes ou de um break) e de fim, os solos e as várias vozes de djambé que constituem o ritmo, à semelhança das vozes das dundumbas ou do kenkeni. Uma voz não é mais que uma variação do ritmo principal que se encaixa na perfeição no mesmo, e permite que o resultado final seja muito mais composto e preenchido, evitando que o ritmo fique um pouco quadrado ou mesmo monótono.
Não devemos tentar logo tocar o ritmo rápido e completo. O processo de aprendizagem é lento e é necessário ter paciência e persistência. Primeiro é necessário compreender o tempo, o que pode representar uma dificuldade para quem não perceba muito de música. Cada tempo pode subdividir-se em vários tempos, onde se encaixam as notas. Por isso, antes de tocar, há que ouvir o ritmo e acompanhar com palmas. Irão imediatamente perceber que o ritmo das palmas vai corresponder ao tempo, e o número de palmas que se batem até perfazer a frase irá corresponder ao tipo de tempo (ex.: 2 palmas = binário; 3 palmas = ternário; etc..), e assim será possível compreender quantas notas se encaixam no mesmo.
Uma vez que pode ser difícil compreender a localização das notas no tempo, e também ouvir o ritmo (pois podemos não conhecer ninguém que o saiba tocar), aconselho a arranjarem um programa de música, mesmo básico, que disponha do modo de composição (pesquisem na net e aparecerão milhares de free downloads, sendo normalmente de poucos megas). Por mais básico que seja o programa, e por menos instrumentos que tenha disponíveis, têm sempre a opção de escolher o tempo, bastando depois copiar a tab do ritmo encaixando as notas devidamente. Bastará então dar uma sonoridade grave à nota bass e diferenciar ligeiramente as notas thumb e midle thumb, e terão uma boa ideia de como deverá soar o ritmo.
O passo seguinte passa por tocar muito devagar (muito mesmo!) para automatizar a troca das mãos e da posição das mesmas, e repetir... ...fazer muitas, muitas repetições. Um exercício que vos poderá ajudar a mecanizar o posicionamento das mãos consiste em fazer sequências com as 3 notas principais (ex.: thumb - thumb - midle thumb - midle thumb - bass - bass - thumb - thumb - etc..) e fazer este exercício durante vários minutos, todos as vezes que vos apetecer tocar.
Depois de se conseguir tocar o ritmo, ou seja, trocar as mãos e as suas posições, podemos então acelerar um pouco, sempre progressivamente, e ficar sempre uns bons minutos a tocar nessa cadência, pois perceberão que ao inicio acabam por se enganar, além de que começarão a doer as mãos e os braços...
Espero que pelo menos experimentem estes métodos, pois estou certo que vos farão muito proveito!

quarta-feira, 4 de março de 2009

O início.

Penso que a forma como o interesse pelo djambé, em particular, surge em todos nós mais ou menos da mesma forma. Num determinado momento, num determinado lugar, ouvimos pela primeira vez aquela singular sonoridade que nos desperta a atenção. Na 2ª ou 3ª vez que voltamos a ouvir ficamos com o desejo de experimentar tocar, mesmo que isso signifique adquirir um. E esse é um dos factores que o tornam tão singular: o seu preço.
Temos que admitir que os djambés são um instrumento relativamente barato, tendo em conta todo o trabalho que implica a sua construção. Esculpir o casco, nivelar, lixar, construir os aros, pôr-los com a forma redonda e com a medida adequada para o diâmetro do bocal (não esquecendo que alguns são ovalizados, normalmente devido à forma exterior do mesmo), soldar, forrá-los com fita, curtir a pele, colocá-la, pôr a corda, fazer os nós correctamente, esticar a pele... ...e são-nos vendidos por apenas cerca de 75 - 100€! Muitos podem ainda achar caro, mas no meu caso, que sei fazer tudo o que disse mais acima (excepto esculpir o casco) e que já o fiz por diversas vezes, sei bem o trabalho de paciência e o esforço que é, e digo-vos: é muitíssimo barato...
O djambé é um dos instrumentos de percussão, com pele, que qualquer um consegue ter em sua casa e que é facilmente transportável, o que não acontece no caso de uma bateria, que não é tão barata, necessita de espaço para ser instalada, não é propriamente fácil de transportar (fora o trabalho de montar e desmontar) e consiste um problema em relação a ser tocada num apartamento, pois por mais que se abafe os pratos, os timbalões e o bombo, faz sempre barulho.
O problema é que quando vamos escolher o djambé pouco ou nada sabemos em relação ao instrumento em si, aos diversos tipos existentes, e a avaliar a sua qualidade. Existem diversos tipos de djambés, cujas características variam principalmente quanto ao país de origem. O mais comum nas feiras de artesanato são os oriundos do Senegal. São fáceis de identificar pela cor da madeira utilizada (castanha clara), pela distância do rebordo ao aro, pela utilização de fita para forrar os aros, pela cor das fitas utilizadas (amarela, vermelha e verde), pelo tipo de corda (branca e preta), pelos ornamentos do casco (normalmente envernizados, com a utilização de tinta preta para realçar as inscrições escavadas) e pela saída de forma cónica. O seu som tende a ser mais grave, uma vez que o diâmetro do bocal é maior. Existem os da Tunísia, em que normalmente não são utilizados aros para esticar a pele (tem um recorte tipo estrela e são feitos furos nos seus vértices por onde passa a corda que vai esticar a pele), possuindo um topo de linhas mais redondas (logo, mais confortáveis para o músico), variando quanto ao aspecto cru da madeira vs pinturas coloridas, caracteristicamente gravados com um padrão minucioso que preenche quase todo o casco. Depois há os meus preferidos, e normalmente considerados ideais para os ritmos mandinga pelo seu som mais metalizado, mais nítido - os de Burkina Faso. São de características mais simples, apresentando uma pele normalmente mais branca e macia, com um rebordo de arestas arredondadas, distando cerca de 5cm do rebordo do bocal ao 1º aro, de diâmetro mais pequeno e com saída também arredondada. São mais leves, talvez também pelo tipo de madeira utilizado para a construção do casco, aparentemente mais dura que a utilizada no Senegal, e de cor é mais escura. As cordas utilizadas são normalmente pretas e normalmente não são vendidos com sacos de transporte, sendo recomendada em vez disso a simples utilização de um pano para cobertura, e protegendo a pele da humidade e do sol. Estes djambés são em muito parecidos com os provenientes da Costa de Marfim, de características muito semelhantes. Existem ainda uma enorme panóplia de djambés, pois quase todos os paíes africanos os têm.
Penso que o aspecto que varia em relação à decisão de adquirir um djambé, é a sua finalidade. Quase todos os djambés que encontramos à venda têm a finalidade de decoração, uma vez que as próprias pessoas que os compram normalmente não sabem avaliar a sua qualidade. E hoje em dia é comum comprar para pôr num qualquer canto lá de casa porque é uma peça gira, é apenas mais um ornamento. Depois há as pessoas que os compram porque acham fixe, ou cool ter um djambé para fazer barulho com os amigos, descompondo uma qualquer malha tocada numa guitarra, enquanto se disfruta de uns copos ou de uns fumos. Por fim, há aqueles que tocam numa banda e procuram o djambé para comporem a sonoridade de determinadas músicas, normalmente mais as acústicas, ou então os que acabam por se juntar a um grupo de pessoal que também toca djambé e, por vezes, até acabam por fazer algumas coisas engraçadas e acabam por adquirir estilos próprios de tocar, descobrindo à sorte notas e sons.
Mas o que nós não nos apercebemos logo ao início, é que só arrancamos 2 notas do nosso djambé, uma mais grave e outra mais aguda, e a única coisa em que talvez consigamos evoluir é no ritmo, na velocidade e na resistência múscular dos braços.
Existêm 6 notas principais que constituem a base dos ritmos mandinga. Essas notas variam quanto à posição da mão e a superfície que bate na pele, bem como a forma como bate. A primeira conquista de quem começa a tocar djambé deverá ser justamente a alternância da posição das mãos e da superfície a atingir a pele, bem como a força (normalmente excessiva) empregada para tocar. A sonoridade é como da noite para o dia. E é isso que normalmente depois permite perceber quando alguém sabe ou não tocar.